Quando discursamos sobre o letramento e nos reunimos para planejar o trabalho a ser desenvolvido com as crianças na escola, a oralidade e as palavras impressas no papel chegam a ficar poéticas. Mas, na hora em que surge o questionamento de como serão sistematizadas essas manifestações; qual será o ponto de partida na prática; como será trazido à existência esse letramento; e como vai ser mensurado para pensar a programação do fazer pedagógico, posso dizer, com toda a segurança, que aparecem muitos nozinhos para serem dissolvidos, a fim de que a enxurrada de idéias venha a ter um real efeito e se transforme de potência em ato.
Um caminho bastante positivo e com devolutivas significativas para perceber em que momento da aprendizagem as crianças se encontram é trabalhar materiais de diversos gêneros textuais. A princípio, utilize quatro tipos, dividindo-os em dois dias da semana. Essa dinâmica poderá ser retomada posteriormente para explorar os demais gêneros, como livros, fábulas, bilhetes, jornais etc. Desenvolva esse projeto em parceria com outro educador para que tudo possa ser bem conduzido, devido à modalidade do instrumento de pesquisa, garantindo também uma organização saudável quando requerer que os alunos se movimentem de um espaço para o outro. Se necessário, convide o coordenador pedagógico da escola para essa parceria.
Eixos temáticos: Natureza e Sociedade; Matemática; Linguagens Oral e Escrita; e Movimento.
Objetivo: oferecer ao professor caminhos possíveis para subsidiar a prática do letramento na realidade da sala de aula.
Idade: a partir de 3 anos.
Materiais: caixas com bulas dos remédios mais utilizados para crianças; cartas recebidas de familiares e amigos; cartaz de campanha de combate à dengue; contas de consumo; folhetos de supermercados; gibis.
COLOCANDO EM PRÁTICA
Providencie, com antecedência, materiais correspondentes a dois gêneros textuais. Trabalhe, em um primeiro momento, com um folheto de propaganda de supermercado. Tenha à mão um caderno, lápis e borracha para registrar rapidamente as informações colhidas. Reúna as crianças em um espaço amplo e acomode-as sentadas no chão para não se cansarem ou em pé enquanto convir. Com giz colorido desenhe vários círculos grandes no chão, consideravelmente distantes um do outro. Numere cada círculo, desenhando um numeral sobre cartolina e fixando-o com fita adesiva no centro. A cartolina que vai servir de fundo para o numeral poderá ter a mesma cor do círculo correspondente.
Assim, se o traçado de giz começar a apagar devido ao movimento das crianças, elas terão bem definida a cor, norteando-se pela referência dos círculos menores que identificam cada espaço a ser ocupado mediante suas instruções.
Explique-lhes que se trata de uma atividade de pesquisa muito divertida e que precisa da participação de todos. Mostre-lhes um folheto de mercado da região sem mencionar a palavra folheto. Refira-se a ele como um material que você está apresentando. Permita que todos tenham a oportunidade de observá-lo. Feito isso, combine que, ao ouvirem atentamente a pergunta, não gritarão, mas levantarão as mãos para que o professor solicite as considerações de cada um e liste-as rapidamente no caderno.
A primeira orientação é que observem bem o que está sendo mostrado e, em seguida, levantem as mãos para responder o que é aquilo que estão vendo. Assim, a primeira pergunta é “o que é?” Isso precisa estar muito claro. Solicite que cada um, na sua vez, revele o seu saber a respeito e faça as anotações. Oriente que cada um dos que levantaram as mãos com uma mesma opinião se dirijam para o círculo número 1 e, para as demais respostas, para os outros círculos a serem orientados.
É possível que, a princípio, apenas uma criança se manifeste. Em seguida, peça para levantar as mãos quem concorda com o amiguinho que deu determinada resposta, e repita-a. Esses devem seguir para o círculo em que se encontra o coleguinha. Adote o mesmo procedimento se houver uma criança ou mais em outros círculos e que tenham dado outras respostas. Oriente-as a, ainda que estejam em um círculo, ficarem à vontade para mudar sua escolha ao ouvirem novamente o que foi dito por cada companheiro.
Essa modalidade de pesquisa permite que os alunos se situem e tenham tempo para digerir o que está sendo proposto. Esse tempo é que precisa ser revisto com generosidade para que a criança tenha oportunidade de se expor e correr os riscos que requer o aprender. Quando for concluída essa sondagem, contabilize as escolhas quantificando-as. Lembre-se de que, como as crianças terão tempo e oportunidade para rever suas opiniões, você possivelmente precisará utilizar a borracha algumas vezes até o fechamento dessa verificação.
Assim, você terá a primeira devolutiva importante para a pergunta “o que é?”. Passe, então, para o segundo momento, que é pesquisar quantos sabem “para que serve?”. Todos devem ser orientados a retornar ao lugar de origem. Apresente-lhes novamente o folheto, certificando-se de que todos tenham uma boa visualização. Peça-lhes que prestem bastante atenção e oriente que o procedimento seja o mesmo quanto ao comportamento que adotaram para manifestarem-se quando lhes foi apresentado o folheto no primeiro momento. Os pequenos devem observar, pensar e responder se sabem para que serve aquele mesmo material. Proceda da mesma forma adotada anteriormente.
Para cada resposta obtida, a criança que a deu deve ser direcionada para um desses grandes círculos riscados e numerados, seguindo a sequência dos acontecimentos. Em seguida, explique ao grupo que quem concorda com a resposta do amigo que está no círculo de número 1 deve dirigir-se para o centro deste e juntar-se a ele. Para as demais respostas que forem surgindo, proceda da mesma forma e vá fazendo os registros em seu caderno ou combine com outro educador essa divisão de tarefas.
De acordo com a turma com a qual está trabalhando esse ano, você poderá, através desse instrumento, apresentar os gêneros textuais pertinentes que se supõe que, de alguma forma, a criança tenha tido oportunidade de entrar em contato. A partir daí, você obterá um resultado que desencadeará as ações para que ensine os saberes necessários e desenvolva o letramento, já que tem um possível norteador daquilo que deve ser retomado e que é preciso trabalhar mais acentuadamente, além de apresentar novas possibilidades para a construção de conhecimentos e saberes que abrem janelas para o letramento.
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